O tripé da fotografia
Por Diogo Barbalho Hungria
Publicado em 30/09/2015
A fotografia iniciou em 1826 e desde então sempre atraiu o ser humano com sua capacidade de “congelar” o tempo. Além de eternizar momentos importantes de nossas vidas, a fotografia cada vez mais nos auxilia a enxergar detalhes que sem ela passaria despercebido aos olhos. No dia a dia, no trabalho e na vida social a fotografia está tão popularizada que chegamos a nos frustrar quando uma câmera não funciona ou quando alguém diz que viu algo incrível, mas não tem uma foto para exibir.
Pare para pensar, quando foi a última vez que você viu ou tirou uma foto? Provavelmente há alguns poucos segundos ou minutos. A dimensão dessa popularidade pode ser observada a todo instante, praticamente tudo o que fazemos hoje de alguma forma, direta ou indiretamente, envolve a fotografia. A atuação da fotografia não está apenas em nossa vida social, mas também em processos industriais, comércio, pesquisa científica e etc., chegando a ser inconcebível estudar ciência sem utilizar a fotografia como ferramenta. A popularidade foi possível com o avanço da tecnologia que disponibilizou a diversos setores a fotografia como ferramenta, por torna-la cada vez mais acessível e fácil de usar, estando, por exemplo, presente em praticamente qualquer celular hoje em dia.
Programas específicos de câmeras fotográficas regulam automaticamente a luz, cor e o foco da imagem. E dependendo das condições de luz do ambiente e do enquadramento dado pelo fotógrafo, conseguimos fotos de tirar o folego mesmo com um equipamento simples, como um celular. Poderíamos imaginar que o fotógrafo profissional estaria condenado a desaparecer com o avanço da tecnologia, uma vez que o acesso a equipamentos fotográficos de qualidade e o manuseio facilitado vêm aumentando gradativamente. Porém, não é isso que observamos. Mesmo com as facilidades tecnológicas atuais, quem de nós é realmente um bom fotógrafo? Ou ainda, como é possível não conseguir tirar boas fotos se com um bom celular podemos tirar fotos realmente excepcionais? Isso se dá por razão de três fatores: o primeiro deles é a vontade de fotografar (em outras palavras a paixão pela fotografia), o segundo é a dedicação e o terceiro é a luz no momento da foto.
Apesar de muitos equipamentos de fotografia terem regulagem automática, ainda assim, há limites que os equipamentos não conseguem prever e solucionar, passando a depender da intervenção do fotógrafo. Isso se deve ao nosso ambiente extremamente plástico, alterando quantidades de luz, cor e contrastes a todo momento. Mesmo que os equipamentos evoluam mais, e consigam prever toda e qualquer situação de luz, ainda assim precisaremos de fotógrafos por outros dois motivos: o primeiro deles é a decisão do momento do clique, o que costumamos chamar de talento ou inspiração. O segundo diz respeito a arte, pois o fotógrafo não tira uma foto, ele a constrói, ele a cria, e no final o que temos não é uma simples imagem e sim arte.
A luz na fotografia é regulada basicamente por três fatores, a quantidade, o tempo e a sensibilidade do sensor a luz. Chamo esse conjunto de fatores de “O Tripé da Fotografia”. Muitos sites e cursos dão boas dicas e orientações para se tirar fotos de qualidade, citando o enquadramento, pontos ouros e até variações de equipamentos e suas peculiaridades. Mas um bom fotógrafo, antes de mais nada, precisa entender que na fotografia a luz é o essencial. A regulagem do equipamento deverá ser feita de acordo com a luz do ambiente, sendo ela artificial ou natural. Parece até óbvio, mas encontrar alguém frisando e ensinado esses três pontos cruciais da fotografia não é comum.
“O Tripé da Fotografia” baseia-se na quantidade de luz (diafragma), tempo de exposição (obturador) e a sensibilidade do sensor a luz (ISO). Não sabendo regular essas três funções, uma câmera fotográfica profissional pode se tornar um bicho de sete cabeças e utilizá-la no modo automático muito provavelmente não lhe trará bons resultados. Nesse caso é aconselhável utilizar uma câmera tipo cyber shot, compactas, ou até mesmo um celular, pois além de serem mais acessíveis, regulam automaticamente a luz, a temperatura da cor e os contrastes da cena, facilitando o ato de fotografar. Logo quando em modo “Manual” a imagem final será o resultado de uma combinação de regulagem do “Tripé da fotografia” possibilitando ao fotografo infinitas formas de retratar uma mesma cena.
Para um melhor entendimento do diafragma, do obturador e do ISO, podemos fazer uma analogia simples com os nossos olhos. O diafragma seria o que conhecemos por Íris, a parte colorida dos olhos, que regula a quantidade de luz que incide no sensor da câmera que é comparável a retina dos olhos. A abertura do diafragma é indicada pela letra F nas lentes das câmeras e quanto maior for a abertura do diafragma, menor será o valor de F, ou seja, uma lente com F igual a 1.5 será mais clara que uma lente com um F igual a 3. A abertura da lente (diafragma) também irá influenciar na profundidade de campo, ou seja, o foco da imagem, sendo que quanto mais fechado estiver o diafragma maior será a profundidade focada. Na figura 1, por exemplo, a regulagem foi feita para que só o peixe ficasse focado.
Figura 1. Imagem com foco somente no peixe
O obturador pode ser comparado com as pálpebras e vai controlar o tempo que o sensor ficará exposto a luz, ou seja, quando maior for o tempo de exposição a luz, maior será a quantidade de luz absorvida. Neste caso, se não controlado corretamente, corre-se o risco de ter uma foto borrada ou pelo menos objetos borrados (Fig.2), geralmente aqueles em movimento. Em casos onde o tempo de exposição da foto é longo (acima de 1/10s) a utilização de um tripé é indispensável. O tempo de exposição pode variar de 1/8000s a mais de 8 horas e vai depender do objetivo do fotógrafo.
Figura 2. Mesma cena fotografada com diferentes velocidades de obturador
O ISO (International Standards Organization) é uma medida que indica a sensibilidade do sensor a luz, ou seja, quanto maior for o ISO maior será a sensibilidade do sensor a luz. Os seres humanos também têm essa capacidade de “aumentar o seu ISO” (sensibilidade a luz), até um certo limite, e isso acontece quando ficamos em um ambiente escuro por alguns minutos. O ISO nos dá a possibilidade de fotografar em ambientes escuros sem a necessidade de um tripé, mas quanto maior for o ISO menor será a nitidez da foto, dando a fotografia um aspecto granulado. O ISO em câmeras digitais vai de 100 a mais de 100.000. Na Fig.3 pode ser observado a diferença de fotografar com diferentes ISO, podendo ser observado na cena fotografada com ISO alto um certo granulado o que vai muitas vezes comprometer a nitidez da foto.
Figura 3. Mesma cena fotografada com diferentes regulagens de ISO
O tripé da fotografia (quantidade, tempo e sensibilidade do sensor) é base para dominar a captura de luz que é a alma da fotografia.
Domine a luz que o resto é uma questão de tempo e perspectiva!
Diogo Barbalho Hungria
hungriabd.wix.com/hungria