MARICULTURA NA CHINA: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA VIVENCIADA
(Primeira parte)
Por Rafael Fernández de Alaiza G. M.
Publicado em 13/11/14
A prática da maricultura (cultivo de organismos marinhos) na República Popular da China é uma tradição, um gosto ou uma necessidade? Eu diria que as três coisas, e depois de passar dois meses em uma área costeira deste belo país, conhecer e visitar instalações de aquicultura, eu acho que eu posso contar o porquê.
Como esta viagem foi viabilizada a mim, um cidadão cubano? Acontece que a Câmara de Comércio Chinês, como uma forma de colaboração internacional, a promoção das exportações e divulgação dos avanços científicos e da cultura nacional, financia vários cursos de uma semana sobre diversos temas. Os cursos são totalmente gratuitos. No caso, os cursos relacionados à a maricultura e à gestão integrada da área de pesca são realizados no FJIO (Fujian Institute of Oceanography – International Communication & Training Centre http://www.fjio.net/en_about.asp), na ilha de Xiamen, província de Fujian.
Fig.1. Fujian Institute of Oceanography
Uma característica interessante desses cursos é que eles são especialmente destinados a candidatos de países em desenvolvimento da América Latina, África, Oriente Médio, países da Ásia e da Oceania. Os cursos são ministrados em Inglês, português e outras línguas, conforme a origem dos participantes. As pessoas que participam dos cursos recebem o apoio de estudantes chineses de línguas estrangeiras.
Fig. 2. Localização da província de Fujian, na China.
Minha viagem para a China aconteceu em 2012 e os cursos dos quais participei versavam sobre os mais diversos temas relacionados à maricultura, tais como as técnicas para a produção de várias espécies marinhas (como algas, moluscos, crustáceos e peixes), produção de alimento vivo (fitoplâncton e zooplâncton), alimentação artificial para aquicultura, monitoramento e gestão da qualidade da água, proteção da biodiversidade marinha e desenvolvimento sustentável da estratégia da indústria da maricultura, ocorrência de doenças e controle de organismos em maricultura, pesca ou lazer recreativo e turismo ligado à pesca.
Pude ver e constatar a importância dos produtores privados no desenvolvimento da maricultura na China, como é feita a comercialização de organismos marinhos vivos, a importância do mercado doméstico para a maioria dos produtos da aquicultura, entre outros.
A República Popular da China tem um litoral de 18.000 km de mar territorial e abrange uma área de 3.000.000 quilômetros quadrados em áreas tropicais, subtropicais e temperadas. O país produz mais de 100 espécies marinhas e é o maior produtor aquícola do mundo, com uma produção total (água doce e água salgada). Em 2008 foram produzidas 34,1 milhões de toneladas (cerca de 70% da produção aquícola em todo o mundo).
Notas sobre os principais grupos de estudo:
Algas marinhas. A produção mundial de algas marinhas é 12.450.000 t. China produz 7.410.000 (peso úmido, 60% da produção global).
Fig. 3. Os principais grupos de algas produzidas na China são Porphyra sp., kelp (Laminaria sp.), Gracilaria sp., Undaria sp., Eucheuma sp. e Sargassum sp.
Cultivo de Ostras
Fig 4. As principais espécies cultivadas são Crassostrea gigas, C. ariakensis e C. plicatula.
Cultivo de abalone
Existem mais de 100 espécies de abalone em todos os oceanos. As espécies de água temperadas são maiores que as espécies tropicais.
Fig. 5. Abalone cultivado na China.
Carcinicultura
Fig 6. As principais espécies de camarão cultivado na China são: camarão cinza (Litopenaeus vannamei), camarão tigre (Penaeus monodon), camarão japonês (Marsupenaeus japonicus), camarão chinês (Fenneropenaeus chinensis).
Em 2010, produção de camarão cultivado na China chegou a 1.348 mil toneladas, das quais 733.000 t cultivadas em água marinha e 615.000 t em água doce. Além disso, o consumo de camarão doméstico foi de cerca de 1,15 milhões de toneladas, respondendo por 85% da produção total da China, e apenas o restante, 15%, foi exportado.
Cultivo de siri
As duas principais espécies cultivadas comercialmente são o siri-lama (Scylla paramamosain) e o siri nadador (Portunus trituberculatus). O primeiro domina a região costeira do sul, e o segundo, no norte.
Ambos são amplamente cultivado na China, conjuntamente com camarão e/ou peixe. Em 2006, produção total cultivado foi de 190.300 toneladas no total, uma área de 76.800 ha.
O siri-lama muda 13 vezes durante seu ciclo de vida: 6 na fase larval, 6 durante o crescimento e reprodução.
Fig. 7. Fêmea ovada e larva do siri Scylla paramamosain.
Geralmente atinge o estádio reprodutivo, quando carapaça apresenta largura maior que 7,8 cm e o peso total ultrapassa 100 g. As fêmeas são geralmente um pouco maior do que os machos.
Scylla paramamosain é um animal carnívoro, a sua presa favorita são pequenos moluscos, peixes e crustáceos.
Atualmente o cultivo dessas espécies é realizado principalmente em viveiros, em policultivo com camarão das espécies Marsupenaeus japonicus e Penaeus monodon, geralmente em baixas densidades. Como resultado, as doenças raramente ocorrem nesses viveiros.
O policultivo de camarão e siri ocorre principalmente no sudeste da China e é praticado há pelo menos 20 anos, o que tem provado ser um método bastante prático de cultivo. Quase nunca a monocultura do siri é realizada, exceto por um curto período (10-20 dias) com o objetivo de aumentar o seu valor comercial.
Fim da primeira parte
1 http://www.fjio.net/en_about.asp
Fonte
Informações e fotos do curso “Training Course on Mariculture Technology for Developing Countries”, FJIO, Xiamen, Fujian, Rep. Pop. China, Jun-Jul 2012.