Berbigão (Anomalocardia brasiliana)
Também chamado de vôngole, marisco-da-areia, maçunim, papa-fumo, pedrinha, samanguaiá, sarro-de-peito, sarro-de-pito, chumbinho, e simongóia, Anomalocardia brasiliana está distribuída ao longo de toda a costa do Brasil, fazendo parte da culinária de várias regiões, além de ter grande importância socioeconômica para as comunidades litorâneas.
Mas, devido a sua boa aceitação para a alimentação humana, além de fácil localização e captura, populações de berbigões têm sido artesanalmente exploradas indiscriminadamente por comunidades pesqueiras tanto para o consumo de subsistência como para venda ao mercado consumidor (Araújo, 2001).
Não há ainda o domínio das técnicas de reprodução, larvicultura ou de engorda da espécie. Assim, a sua produção em toda costa brasileira depende da extração da espécie em bancos naturais, o que é feito de forma totalmente sem controle e usualmente de maneira rudimentar.
Embora seja uma espécie de potencial interesse para a aquicultura, muito se tem que evoluir em termos de conhecimento científico e de desenvolvimento de tecnologias para que a espécie possa ser empregada em empreendimentos comerciais.
Ostra-do-mangue (Crassostrea rhizophorae)
A ostra-do-mangue, Crassostrea rhizophorae, é naturalmente encontrada em ambientes estuarinos tropicais da costa brasileira, fixadas em substratos, principalmente em raízes de mangue (Nascimento, 1982).
Como resultado da grande plasticidade fenotípica, as conchas de ostras das espécies C. rhizophorae e C. brasiliana são de difícil identificação apenas por meio de sua morfologia. Rios (1994) considera C. brasiliana como sinônimo de C. rhizophorae. Entretanto, essa opinião está longe de ser unânime (Ignacio et al., 2000), exigindo o uso de ferramentas moleculares para correta identificação de cada espécie. Varela et al. (2007) utilizando essas técnicas como ferramenta, concluiu não apenas que são espécies distintas, como também que C. brasiliana seria sinonímia de C. gasar, uma ostra encontrada naturalmente no litoral atlântico da África.
Se a diferenciação morfológica entre elas é tão complicada, é razoável de se supor que muitos dos estudos, experimentos e dados gerados como se fossem relativos a uma determinada espécies sejam, na verdade, relativos à outra.
A experiência de ostreicultores acostumados a coletar sementes de ostras no manguezal mostra, contudo, que alguns indivíduos crescem rapidamente, enquanto outros apresentariam taxas de crescimento bastante lentas. Segundo esses mesmos produtores, as sementes que não crescem são as de C. rhizophorae.
C. rhizophorae é conhecida popularmente como “ostra-da-pedra” ou “ostra-do-mangue”, sobretudo por estar fixada às raízes aéreas de mangue, ocorre na região entre-marés e pode costuma atingir 10-12 cm de altura (Nascimento, 1982).
Análises genéticas preliminares realizadas no âmbito destes PLDM (Boeger et al., em preparação) dão suporte às observações empíricas a respeito dessa menor taxa de crescimento de C. rhizophorae. Em função disso, essa espécie não é aqui apresentada como uma espécie emergente, em termos de utilização em empreendimentos comerciais de maricultura.
Segundo dados da então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR, 2009) havia solicitação de áreas para cultivos de C. rhizophorae em Alagoas (Coruripe), na Bahia (Cachoeira, Cairu, Candeias, Jaguaripe e Salvador), no Ceará (Itarema), no Paraná (Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Paranaguá e Pontal do Paraná), no Rio de Janeiro (Angra dos Reis, Armação dos Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Itaguaí, Mangaratiba e Parati), no Rio grande do Norte (Galinhos), em Santa Catarina (Bombinhas, Florianópolis, Palhoça, Penha, Piçarras, Porto Belo), em Sergipe (Pacatuba) e em São Paulo (Cananéia e Ilha Comprida).
Bacucu (Mytella guyanensis)
As espécies de mitilídeos de interesse comercial que ocorrem no Brasil são: Mytella falcata e Mytella guyanensis, de água salobra; e Perna perna e Mytilus edulis platensis, de água oceânica. Esta última espécie ocorre somente no litoral do Rio Grande do Sul, enquanto as demais são encontradas em todo litoral brasileiro (Pereira et al., 2003).
M. guyanensis, conhecido como sururu, marisco do mangue, mexilhão de estuário, bacucu ou bico de ouro, é encontrado em bosques de mangue, situados na zona intermareal de ambientes estuarinos (Nishida & Leonel, 1995) e uma espécie muito abundante no interior das baías do litoral paranaense.
Ela é muito apreciada na culinária, especialmente nas regiões litorâneas dos estados nordestinos. Porém, não existem registros de cultivos comerciais da espécie no país e a demanda é exclusivamente suprida por extratores, os chamados “catadores” de moluscos. A atividade de coleta tem quase sempre o envolvimento familiar, sendo as mulheres e as crianças membros bastante efetivos.
Como há geralmente abundância de organismos em bancos naturais, uma eventual produção aquícola da espécie teria que enfrentar a desproporcional concorrência com o produto oriundo dessa atividade extrativa. Considerando que os custos envolvidos na extração do bacucu são ínfimos e os investimentos praticamente nulos, dificilmente o produto cultivado teria condições de competir em preço com o produto extraído da natureza. Além disso, ainda não há tecnologia suficientemente desenvolvida para o cultivo de M. guyanensis em escala comercial.
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Araújo, C. M. Y. 2001. Biologia reprodutiva do berbigão Anomalocardia brasiliana (Mollusca, Bivalvia, Veneridae) na Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. Tese de Doutorado. Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. 204p.
Ignacio, B. L.; Absher, T. M.; Lazoski, C. & Solé-Cava, A. M. 2000. Genetic evidence of the presence of two species of Crassostrea (Bivalvia: Ostreidae) on the coast of Brazil. Marine Biology, 136: 987-991.
Nascimento, I. A. 1982. Cultivo de ostras no Brasil: problemas e perspectivas. Ciência e Cultura, 35: 871-876.
Nishida, A. K. & Leonel, R. M. V. 1995. Occurrence, population dynamics and habitat characterization of Mytella guyanensis (Lamarck, 1819) (Mollusca, Bivalvia) in the Paraíba do Norte river estuary. Bol. Inst. Oceanogr. 43(1): 41-49.
Pereira, O. M.; Hilberath, R. C.; Ansarah, P. R. A. & Galvão, M. S. N. 2003. Estimativa da produção de Mytella falcata e de M. guyanesis em bancos naturais do estuário de Ilha Comprida – SP – Brasil. B. Inst. Pesca 29(2): 139-149.
Rios, E. C. 1994. SeasheIls of Brasil. Rio Grande, Editora da FURG, 2 edição, 492 p.
SEAP/PR. 2009. Sistema de Informações das Autorizações de Uso das Águas de Domínio da União para fins e Aquicultura (SINAU). Disponível em www.presidencia.gov.br/seap. Acessado em 12/12/2009.
Varela, E. S.; Beasley, C. R.; Schneider, H.; Sampaio, I.; Marques-Silva, N. Do S. & Tagliaro, A. C. H. 2007. Molecular phylogeny of Mangrove oysters (Crassostrea) from Brazil. Journal of Molluscan Studies, 73:229-234