Por Ana Paula da Silva Bertão Publicado em 25 de março de 2019
Entre a classe Insecta, encontra-se a ordem Odonata, pertencentes a esta ordem são as libélulas. São um grupo de insetos com indivíduos adultos de coloração marcante (Figura 1) e ninfas opacas (Figura 2). Estes indivíduos possuem dependência direta de água no estágio larval e indireta na fase adulta, por estarem relacionados aos ambientes límnicos associados pelo comportamento reprodutivo (Borror et al., 1989; Ramírez, 2010). As libélulas são hemimetábolos, ou seja, apresentam processo incompleto de metamorfose, do ovo eclode uma ninfa (forma jovem), que depois de alguns processos de transformação passam a ser adultos. Os adultos possuem o estádio terrestre e depositam ovos sobre a vegetação adjacente ao corpo de água ou substratos submersos, ou os liberam diretamente na água (Figura 3).
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Figura 1. Libélula adulta da ordem Odonata.
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Figura 2. Ninfa de libélula ordem Odonada.
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Figura 3. Libélula adulta liberando os ovos sobre uma planta aquática.
Os ovos e as ninfas (também conhecidas como náiades), representam o estágio aquático, designada como a fase ninfal que possui período de vida mais longo que os demais estágios. A maioria das espécies de Odonata, passam por períodos entre um mês, a mais de um ano como ninfa e possuem um número variável de estágios até atingir a fase adulta (Ramírez, 2010).
Os insetos aquáticos e outros invertebrados aquáticos são fundamentais na cadeia alimentar dos sistemas aquáticos e principalmente para os peixes cultivados (Von Hessberg e Quintero, 2004). Para que exista harmonia entre os insetos aquáticos e o manejo na piscicultura, é necessário que o piscicultor conheça o comportamento biológico que os insetos aquáticos apresentam. Assim, como a biologia das espécies de peixes cultivadas. Para que desta forma se estabeleçam melhores condições de cultivo minimizem os prejuízos da predação destes insetos sobre as pós-larvas de peixes.
As pós-larvas quando povoadas nos sistemas de produção, podem se alimentarem de larvas de insetos aquáticos, presentes nos tanques ou viveiros. Isto ocorre quando o povoamento e o manejo das pós-larvas ocorrem no período correto, que seria quando os peixes estão com tamanho suficiente e povoados com até 5 dias após a eclosão. Para que as pós-larvas possam predar as ninfas ou estarem aptas a se defenderem de predadores. Pois, quando o manejo do povoamento ocorre em período tardio, as ninfas vão predar as pós-larvas, ocasionando grandes prejuízos na produção de alevinagem.
Esses prejuízos estão associados a forma de predação que as ninfas realizam, pois possuem o comportamento voraz e qualquer animal aquático podem ser presas para elas. Como as pós-larvas de peixes, besouros aquáticos, larvas de mosquitos, vermes e girinos. As ninfas possuem uma maneira eficaz de capturar suas presas, com mandíbulas flexíveis e extensas equipadas com ganchos e dentes afiados (Figura 4 e 5).
![Figura 4 Figura 4](https://gia.org.br/portal/wp-content/uploads/2019/03/Figura-4.jpg)
![Figura 5 Figura 5](https://gia.org.br/portal/wp-content/uploads/2019/03/Figura-5.jpg)
Figura 4 e 5. Ninfas de libélulas capturando pós-larvas de peixes, com mandíbulas e dentes afiados.
As ninfas de libélulas vivem principalmente em águas lênticas, preferíveis com vegetações próximas das margens. As ninfas vivem em piscicultura de agua doce e salobra, ambientes lóticos e lênticos. Fatores físicos como temperatura, profundidade da água, presença ou ausência de vegetação, determinam o consumo das ninfas sobre as pós-larvas de peixes.
Ninfas são predadoras carnívoras vorazes principalmente de pós larvas de peixes de até 1,5 gramas de peso vivo. Uma única ninfa pode consumir até 5 pós larvas/dia, em um ciclo de produção na piscicultura pode haver grandes perdas causadas por estes insetos aquáticos.
Muitos piscicultores têm utilizado indiscriminadamente diversos tipos de substancias químicas tóxicas e não biodegradáveis para o combate a estes insetos aquáticos, porém a utilização destas substancias podem causar grave distúrbios na fauna primária aquática (Mccafferty, 1983). Geralmente são utilizados inseticidas organofosforados, não recomendados pela legislação ambiental, para o uso dessas substâncias nos ambientes aquáticos (Winkaler, 2008).
Dentre os compostos com origem os organofosforados, destaca-se o Paration metílico (comercialmente conhecido no Brasil como Folidol 600® (Bayer) e Folisuper 600 BR® (Agripec)) (Queiroz, 2017). Este composto é classificado pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA como um pesticida de uso restrito, pertencente à classe toxicológica I, dos compostos extremamente tóxicos, podendo ser utilizado somente por aplicadores autorizados (Queiroz, 2017). Esta substância, quando utilizadas com exposições em altas doses, podem afetar o desenvolvimento normal dos peixes. O que podem resultam em movimentos não coordenados, perda de mobilidade e de equilíbrio e alterações degenerativas no fígado, nos rins e no epitélio branquial dos peixes (Monteiro et al., 2009).
Como também, podem gerar consequências desfavoráveis ao meio ambiente, quando disseminadas pelos cursos hídricos e entrando em contato com outros organismos presentes nos ambientes (Botelho et al., 2012).
Alguns métodos preventivos e de controle podem ser realizados para minimizar a predação das ninfas sobre as pós-larvas na piscicultura. Como realizar práticas de manejo adequadas, como o período correto de povoamento das pós-larvas; manter sempre limpa as margens dos viveiros ou tanques de produção e produzir as pós-larvas em um local protegido da predação das ninfas de libélulas.
Referencias
BORROR, D. J.; TRIPLEHORN, C. A.; JOHNSON, N. F. An introduction to the study of insects. Saunders College Publishing, 1989. ISBN 0030253977.
BOTELHO, R. G. et al. Prós e contras da aplicação de pesticidas na aquicultura. Aquicultura, p. 45, 2012.
KUBITZA, F. Larvicultura de peixes nativos. Panorama da aqüicultura, v. 77, p. 47-56, 2003.
MCCAFFERTY, W. P. Aquatic entomology. The fishermen’s and ecologists’ illustrated guide to insects and their relatives. Jones and Barlett Publishers. Inc., Boston, EEUU, 1983.
MONTEIRO, D. A.; RANTIN, F. T.; KALININ, A. L. The effects of selenium on oxidative stress biomarkers in the freshwater characid fish matrinxã, Brycon cephalus (Günther, 1869) exposed to organophosphate insecticide Folisuper 600 BR®(methyl parathion). Comparative Biochemistry and Physiology Part C: Toxicology & Pharmacology, v. 149, n. 1, p. 40-49, 2009. ISSN 1532-0456.
QUEIROZ, J. C. Controle químico de ninfas de libélula (Insecta, Odonata) durante a larvicultura do Jundiá (Rhamdia quelen). 2017.
RAMÍREZ, A. Capítulo 5: Odonata. Revista de Biología Tropical, v. 58, p. 97-136, 2010. ISSN 0034-7744.
VON HESSBERG, C. M. H.; QUINTERO, A. G. IMPORTANCIA DEL ORDEN ODONATA PARA LA PRODUCCIÓN DE PECES EN AMBIENTES CONTROLADOS. 2004.
WINKALER, E. U. Aspectos ecotoxicológicos dos inseticidas Diflubenzuron e Teflubenzuron para o pacu (Piaractus mesopotamicus). 2008.