Por Camila Prestes dos Santos Tavares
Publicado em 16/06/2016
Crustáceos da família Portunidae possuem cinco pares de apêndices, qualquer um ou mais destes apêndices podem ser removidos naturalmente por autotomia, em outras palavras, a capacidade de auto amputar um membro, a fim de escapar de um predador ou para reduzir a perda de sangue a partir de um ferimento.
Após um período de tempo, os apêndices perdidos podem ser regenerados, em virtude da capacidade de regeneração destes animais (Figura 1; Figura 2) (Kennedy e Cronin, 2007). Esta adaptação fisiológica permite substituir membros danificados muito rapidamente e, assim, evitar as desvantagens de sobrevivência de funcionar sem um conjunto completo de apêndices (Hopkins, 1989).
Figura 1. Siri recém-mudado com o quelípodo esquerdo regenerado (esquerda); ao lado (direita) o exoesqueleto antigo (exúvia) com o quelípodo esquerdo autotomizado.
Figura 2. Siri recém-mudado com o quelípodo esquerdo regenerado após autotomia (A); e o exoesqueleto descartado durante a muda (exúvia) com o quelípodo esquerdo autotomizado (B).
A regeneração dos membros ocorre somente após o processo de muda, em que todo o exoesqueleto é substituído por um novo, produzido pelo próprio organismo (Figura 3).
Figura 3. Siri em processo de muda, expelindo o exoesqueleto antigo.
Dependendo do período de ciclo de muda (período de tempo entre uma muda e a subsequente) em que ocorreu a autotomia, os apêndices perdidos podem ser regenerados completamente durante um único ciclo de muda (Hopkins, 1989), ou em estágios por meio de mudas sucessivas, até chegar ao tamanho original (Figura 4) (Kennedy e Cronin, 2007).
Figura 4. Siri em processo de regeneração após um ciclo de muda.
Hopkins (1989) dividiu o processo de regeneração de membros em três fases: 1) Cicatrização; 2) Crescimento basal e; 3) Crescimento pro-ecdisial. A cicatrização ocorre logo após a autotomia; o crescimento basal consiste em divisões mitóticas rápidas até que praticamente todas as células de todo o novo membro são produzidos, nesta fase todos os músculos e nervos do novo membro estão sendo concluídas, mas o membro permanece muito pequeno e pode permanecer assim por um período indeterminado; e o crescimento pro-ecdisial é a fase final da regeneração do membro, é o período de 2 a 3 semanas que antecede a muda, e é caracterizado pelo aumento do tamanho das células do membro. Por fim, no processo de muda, o novo membro é puxado para fora e preenchido com hemolinfa.
A perda de membros e a regeneração podem trazer alguns efeitos para os siris, como por exemplo, afetar o crescimento de siris devido ao desvio de recursos metabólicos para regenerar anexos autotomizados (Ary et al., 1987), e alguns estudos afirmam que a perda de membros, aciona o processo de regeneração e pode ocasionar muda precoce (Hopkins, 1982; Skinner, 1985; Hopkins, 1989; David Smith e Hines, 1991; Amador Del Ángel, 1996; Hopkins, 2001; Chang e Mykles, 2011).
Referências Consultadas
AMADOR DEL ÁNGEL, E. L. L. M. J. A. C.-R. P. La remoción de quelípedos en la obtención de jaiba azul de concha suave Callinectes sapidus R. en condiciones de laboratorio. Rev. Invest. Mar., v. 17, n. 2-3, 1996.
ARY, R. D. J.; BARTELL, C. K.; POIRRIER, M. A. The effects of chelotomy on molting in the blue crab, Callinectes sapidus. J. Shell. Res., v. 6, n. 2, p. 103–108, // 1987.
CHANG, E. S.; MYKLES, D. L. Review: Regulation of crustacean molting: A review and our perspectives. General and Comparative Endocrinology, v. 172, p. 323-330, 7/1/1 July 2011 2011. ISSN 0016-6480.
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KENNEDY, V. S.; CRONIN, L. E. The Blue Crab: Callinectes Sapidus. Maryland Sea Grant College University of Mary, 2007.
SKINNER, D. Moulting and regeneration. The Biology of Crustacea – Integument, Pigments, and Hormonal Processes, v. 9, p. 44 – 128, 1985.