As alterações hematológicas podem ser indicadoras do estado fisiológico do peixe já que a função do sangue no organismo é manter a estabilidade dos tecidos e o ambiente interno constante1. Por este motivo os parâmetros do sangue são cada vez mais avaliados como um índice do status da saúde geral de diversas espécies de peixes2.
A exposição a agentes químicos ambientais pode induzir alterações nos parâmetros hematológicos, tais como: concentração de hemoglobina, contagem de eritrócitos (série vermelha), leucócitos, linfócitos, monócitos e granulócitos (série branca), assim como nos trombócitos, alterações enzimáticas, no hematócrito, nas proteínas e também na glicose3 (Figura 1 e Figura 2). Desordens hematológicas podem ser marcadas por aberrações na estrutura e função das células sanguíneas ou em mecanismos de coagulação4.
A concentração de glicose plasmática, por exemplo, pode representar uma medida útil do estado energético de um organismo num dado momento5, visto que um aumento na sua disponibilidade pode indicar a ocorrência de uma situação de estresse.
O cortisol, por sua vez, é um hormônio envolvido em funções como, por exemplo, a resposta imunológica, a osmorregulação, reprodução, crescimento e respostas ao estresse tanto em peixes como em outros vertebrados. Este vem sendo largamente utilizado em peixes, qualquer que seja o seu estágio de desenvolvimento6.
Apesar das inúmeras possibilidades de utilização de biomarcadores hematológicos em peixes deve-se atentar para a interpretação dos resultados obtidos visto que fatores bióticos (idade do animal e gênero), abióticos, (qualidade da água e estação do ano), e o manejo (captura e manipulação) podem interferir nos resultados obtidos7.
Ainda assim a avaliação de parâmetros hematológicos pode fornecer importantes informações a respeito de patologias que afetam o organismo avaliado, quando estes estão expostos a algum químico. Os estudos hematológicos das diferentes espécies de peixe são de interesse ecológico e também fisiológico visto que podem auxiliar no entendimento da relação entre as características sanguíneas e o habitat dos peixes.
Figura1. Análise realizada em lâmina de esfregaço sanguíneo de pacu(M. maculatus)corada com Liquido de Rees. A) linfócito e eritrócitos, B) granulócito e eritrócitos, C) monócitos, trombócitos e eritrócitos, D) eritrócitos.
Figura 2. Análise de micro-hematócrito realizada em centrifuga.
Por:
Thayzi Zeni
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zoologia – UFPR
Publicado em 29/03/14
1 – PICKERING, A.A.D.; POTTINGER, T.G., 1987.Crowding causes prolonged leucopenia in salmonid fish, despite interrenal acclimation. Journal of Fish Biology, 30: 701- 712
2 – KORI-SIAKPERE, O., AKE, J.E.G., AVWORO, U.M., 2006. Sublethal effects of cadmium on some selected haematological parameters of Heteroclarias (a hybrid ofHeterobranchus bidorsalisandClarias gariepinus). International Journal of Zoological research, 2 (1): 77-83.
3 – CLAUSS, T. M., DOVE, A. D. M., ARNOLD, J. E., 2008. Hematologic Disorders of Fish. Veterinary clinics of North America: Exotic animal practice, 11: 445–462.
4 – VAN DER OOST, R., BEYER, J., VERMEULEN, N. P. E., 2003. Fish bioaccumulation and biomarkers in environmental risk assessment: a review. Environmental Toxicology and Pharmacology, 13: 57-149.
5 – HUGGET, R. J., KIMERLE, R. A., MEHRLE, J. R.; BERGMAN, H. L., 1992. Biomarkers: Biochemical, Physiological and Hystological Markers of Antropogenic Stress. Lewis Publishers, Boca Raton.
6 – WEENDELAR B., 1997.The stress response in fish. Physiological Reviews, 77(3): 591-625.
7 – BOLASINA, S.N., 2006. Cortisol and hematological response in Brazilian codling,Urophycis brasiliensis(Pisces, Phycidae) subjected to anesthetic treatment. Aquaculture International, 14:569–575