Por Diego Junqueira Stevanato e Fabrício Salvador Vidal
Os métodos de controle químico são os mais utilizados, porém com consequências ambientais ainda não suficientemente bem compreendidas. A escolha desse biocidas/moluscidas deve seguir uma análise rigorosa devido ao potencial tóxico associado à maioria desses produtos e aos possíveis riscos que podem provocar à saúde humana. Esses produtos ainda, mesmo que com autorização especial para uso, não se degradam totalmente, podendo se acumular em diferentes substratos, contaminando águas superficiais e subterrâneas. Outro fator relacionado aos resíduos químicos, proveniente desses processos, é a possibilidade de reagirem com outros compostos presentes no ambiente, gerando como consequências subprodutos que podem ser prejudiciais a outros organismos e ao homem. Os danos causados por esses produtos, ainda, podem exercer ações corrosivas das estruturas hidráulicas. Na Tabela abaixo estão descritas as ações e os impactos ambientais e operacionais dos produtos químicos utilizados no controle da incrustação de organismos bivalves em sistemas hidráulicos.
Tabela 1. Ações e impactos dos principais produtos químicos usados no combate de organismos incrustantes no mundo.
Método de controle | Ação | Impactos ambientais | Impactos operacionais | Referências |
Amônia | Reduz a quantidade de tempo em que as valvas são mantidas abertas para a respiração e filtração; Prejudica a secreção do fio de bisso; Reduz a ação ciliar e altera o metabolismo. | Provoca impactos ecotoxicológicos diretos e indiretos nas comunidades aquáticas. A forma não ionizada (NH3), por ser mais solúvel em lipídios, se difunde facilmente pelas membranas celulares, causando efeitos tóxicos, mesmo em baixas concentrações; A forma não ionizada (NH3), por ser mais solúvel em lipídios, se difunde facilmente pelas membranas celulares, causando efeitos tóxicos, mesmo em baixas concentrações; | Pode ser sufocante e pode causar queimaduras nos olhos e pele, causando irritação à garganta e trato respiratório; Pode ser fatal em concentrações altas mesmo em curtos períodos de exposição. Não existe na literatura efeitos sob as estruturas hidráulicas. | Montresor, Miranda-Filho et al. (2013); Montresor (2015) |
BAYLUSCIDE WP70 | Produto com ação moluscida, usado inicialmente no controle de gastrópodos. | Produto com baixa ação residual, tendo seus resíduos quebrados por processos de hidrólise e fotólise e pode ser degradado, também, por ação microbiana. Não exerce influência qualitativa sobre os sistemas aquáticos. | Não foram encontrados dados científicos, sobre os impactos operacionais, na literatura. | Dawson (2003); Cataldo, Boltovskoy et al. (2003); Claudi and de Oliveira (2015) |
BULAB 6002® | Microbiocida catiônico solúvel em água utilizado no controle de algas, bactérias e moluscos em sistemas hidrálicos. Ação tóxica letal em larvas de mexilhão assim que há o contato com o produto. Provoca desagregação dos indivíduos adultos em uma colônia incrustante. | Biocida de ação tóxica não seletiva. O produto se liga às superfícies carregadas negativamente, incluindo microrganismos. | Produto estável em condições normais de uso e armazenamento. Não foi encontrado, na literatura, dados científicos que conferem ao produto características que afetem as estruturas hidráulicas. | Waller, Rach et al. (1993); Martin, Mackie et al. (1993); McMahon, Shipman et al. (1993); Darrigran, Maroñas et al. (2001); Maroñas and Damborenea (2009) |
CLAM-TROL CT-2 / SPECTRUS CT1300 | Composto utilizado no controle de moluscos, hidrozoários, briozoários, insetos, fungos, bactérias, algas e crescimento de lodo em sistemas hidráulicos. | Pesticida de ação tóxica para peixes, não podendo ser despejado em qualquer corpo hídrico. | Produto oxidante provocando corrosões em ligas metálicas de alumínio, zinco e cobre. Armazenamento em bombas de aço inox 316. Corrosivo, causa danos irreversíveis nos olhos e queimaduras na pele. Não deve ser usado ou armazenado perto de calor ou chama aberta. | Boltovskoy and Cataldo (2003); Cataldo, Boltovskoy et al. (2003); Boltovskoy, Correa et al. (2006); Claudi and de Oliveira (2015) |
Cloro gasoso, Hipoclorito de Sódio, Dióxido de Cloro e Dicloroisocianurato de sódio Anidro | Controle da formação do “biofouling”; Inibição do assentamento e crescimento dos estágios larvais, por debilitar o mecanismo de fixação dos organismos ao substrato. | Muito tóxico para organismos aquáticos, mesmo em baixas concentrações; em ambientes lênticos, quando associados à matéria orgânica resultam em compostos carcinogênicos. | Risco de incêndio e explosão pela evaporação do gás oxidante no ambiente fechado; Produto químico altamente oxidante, ocasiona corrosão em sistemas hidráulicos formados por ligas metálicas; Risco de morte ao manipulador quando inalado. | MacIsaac (1994); Ricciardi (1998); Ribeiro (2001);Cataldo, Boltovskoy et al. (2002); Colares, Suminski et al. (2002); Cepero (2004); Giordani, Neves et al. (2005); Maroñas and Damborenea (2006); Campos (2009); Brentano (2014) |
H-130M | Produto utilizado nos processos de desinfecção da água agindo como um biocida. | Age sobre as interações intermoleculares do metabolismo celular provocando suas disrrupturas e dissociação das bicamadas lipídicas. Reduz a permeabilidade das membranas celulares causada pelos óxidos de nitrogênio, que impede as trocas gasosas das folhas e prejudica a realização da fotossíntese. | Por ser um produto composto por amônia quaternária, em altas concentrações, tem ação corrosiva provocando queimaduras na pele e lesões nos olhos. Podem se decompor em produtos como: óxidos de carbono, óxidos de nitrogênio (NOx), óxidos de enxofre e óxidos de fósforo. A transformação desses óxidos em ácidos fracos e fortes podem degradar as estruturas metálicas das tubulações e sistemas hidráulicos. | Boltovskoy and Cataldo (2003); Claudi and de Oliveira (2015) |
Hidróxido de Sódio | Ocasiona uma rápida e elevada alteração no pH do meio e também da hemolinfa de organismos aquáticos. É utilizado para reduzir a incrustação por moluscos e hidrozoários e a deposição de lama ferruginosa nos sistemas hidráulicos. | A variação do pH pode ser letal a diferentes espécies de organismos aquáticos; Pode provocar reações violentas quando em contato com ácidos e halogêneos orgânicos; | O produto pode provocar queimaduras graves na pele e nos olhos do manipulador; Corrói o aço em temperaturas acima de 40 °C. Se exposto ao ambiente de trabalho, pode absorver gás carbônico, produzindo carbonato de sódio., produzindo carbonato de sódio;
Em contato com metais como o Alumínio (Al), Magnésio (Mg), Estanho (Sn), Zinco (Zn), bem como superfícies galvanizadas, pode gerar gás de hidrogênio, formando uma mistura explosiva com o ar atmosférico. |
Boltovskoy, Correa et al. (2006); Darrigran and Damborenea (2009); Netto (2012); Montresor, Miranda-Filho et al. (2013); de Resende (2014) |
Microencapsulamento de moluscidas (KCL e Amina DB45) | Microcápsulas com partículas ativas que reagem dentro dos mexilhões, liberando compostos tóxicos aos mesmos. | Por ser revestida de gorduras, graxas, açúcares e proteínas, essas microcápsulas podem ser absorvidas por qualquer outro animal, e os compostos liberados são potencialmente bioacumuláveis nos organismos. | Não há evidência científica, na literatura, que descreva algum tipo de impacto relacionado nos processos operacionais, nem nas estruturas hidráulicas. | Aldridge, Elliott et al. (2006); Maroñas and Damborenea (2006); Campos (2009); Costa, Aldridge et al. (2011) |
MXD-100® | Princípio ativo a base de tanino e amônia quaternária. Cria uma barreira contra a deposição de lama ferruginosa nas tubulações com ação anti-biofouling e, em elevada concentração, é toxico aos mexilhões. | Produto comercial cujos riscos e impactos ao ambiente natural ainda não foram estudados ou descritos cientificamente, porém classificado como produto altamente perigoso ao meio ambiente. | Classificação toxicológica do tipo Classe I – extremamente tóxico; Ação corrosiva, podendo provocar queimaduras na pele e nos olhos, pela presença de cloreto de didecildimetilamônio. | Pérez, García et al. (2007),Mäder Netto (2012); Montresor, Miranda-Filho et al. (2013); |
Sulfato de cobre | Fungicida potente, que inibe as atividades enzimáticas, provocando alterações teciduais e aumentando a permeabilidade das células. | O cobre presente nesse composto é altamente bioacumulável. Pode provocar efeitos letais e sub-letais, ocasionando mutações celulares. Por apresentar efeitos fungicidas, herbicidas e inseticidas podem ocasionar na redução drástica de populações de macroinvertebrados no meio aquático natural. | Irritante para pele e olhos. Nocivo ao operador se ingerido. Não ocasiona corrosões em instalações hidráulicas. | Soares, Pereira et al. (2009); Mansur, Santos et al. (2012) |
Sabe-se que no Brasil os produtos liberados para o uso possuem liberação do tipo emergencial e pouco são os estudos quanto aos impactos ao meio ambiente natural. Uma vez que aumente a quantidade de produtos químicos na tentativa de controle desses organismos, há do outro lado da balança, a mesma necessidade de se avaliar os impactos gerados. Vale ressaltar ainda, que o maior impacto hoje, já é a própria presença desses organismos incrustantes no próprio meio natural.
Referências
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