Profilaxia na Ostreicultura
Por Gisela Geraldine Castilho-Westphall
Publicado em 22/06/2015
“Termo tem origem grega, PROFILAXIA significa precaução e consiste em medidas que têm por objetivo prevenir ou atenuar doenças. ”
Antes de tratar das principais medidas que podem prevenir ou atenuar doenças na ostreicultura, precisamos saber diferenciar uma ostra doente de uma saudável.
Para saber se as ostras estão doentes é fundamental, antes de mais nada, conhecer uma ostra saudável. Para isso, é necessário que o produtor tenha sempre contato direto e observe atentamente as características das suas próprias ostras.
Isso pode ser feito durante trabalhos de rotina, como os de limpeza das estruturas de cultivo, avaliação das taxas de crescimento das ostras, separação de indivíduos mortos ou mesmo durante a venda. Também é importante que o produtor abra algumas ostras periodicamente para conhecer e verificar sua aparência interna.
Assim, conhecendo bem uma ostra saudável, será mais fácil identificar alterações que venham a ocorrer em relação ao seu formato, coloração interna, aparência e consistência da parte mole, cheiro, presença de organismos que possam afetar a saúde ou a qualidade das ostras comercializadas.
Figura 1. Ostra do mangue (Crassostrea gasar) com aspecto normal.
Assim como outros animais, as ostras podem ser acometidas por dois tipos de doenças:
- Doenças transmissíveis: aquelas que podem ser transmitidas de um animal para outro, direta ou indiretamente. A transmissão direta ocorre quando uma ostra doente, pela proximidade ou pelo contato, transmite uma doença para ostras saudáveis. A transmissão indireta, por sua vez, ocorre quando uma ostra entra em contato com um objeto contaminado (as estruturas de cultivo, por exemplo) ou com um organismo de uma outra espécie que também está infectado com o agente que causa a doença. Quando a ostra saudável entra em contato com o objeto contaminado ou com outro animal contaminado, ela pode adquirir aquela doença. Exemplos: doenças causadas por vírus, bactérias e parasitos.
- Doenças não-transmissíveis: doenças que não são transmitidas de animal para animal, nem mesmo indiretamente. Exemplos: doenças de origem hereditária (genética), que são aquelas passadas de pais para filhos; ser resultado de alterações metabólicas, ou seja, doenças que fazem com que o organismo da ostra passe a não funcionar adequadamente; ser causadas por problemas nutricionais ou, principalmente, por condições ambientais inadequadas.
Que cuidados o produtor deve ter em relação à qualidade da água utilizada em atividades de manejo?
Qualquer operação de manejo deve ser realizada utilizando água com, no mínimo, a mesma qualidade usada no cultivo. A água doce eventualmente utilizada, por sua vez, deve ser potável.
Figura 2. Cultivo de ostras em sistema de mesa.
Como descartar resíduos gerados no cultivo?
Ostras mortas
As ostras podem morrer naturalmente durante um cultivo ou até mesmo ser afetadas por alguma doença muito grave, que se não controlada pode acabar com o cultivo não apenas de um produtor, mas de todos os produtores da mesma região. Então, como diferenciar a causa da morte das ostras? Como isso nem sempre é fácil, é melhor que o produtor adote procedimentos profiláticos, como:
- Recolher as ostras mortas e retirá-las do sistema de cultivo;
- Dar uma destinação adequada aos animais mortos. Uma possibilidade é cavar um buraco no solo, em local longe de qualquer ponto de captação de água, cobrir as conchas com cal virgem e depois enterrar.
Organismos incrustantes
O produtor precisa limpar periodicamente suas estruturas de cultivo, para evitar a predação ou competição das ostras com outros organismos por espaço ou por alimento. Mas, se esses organismos incrustantes forem jogados próximos ao local de cultivo, é claro que eles poderão voltar mais rapidamente, entupir as estruturas de cultivo e competir ou predar as ostras.
Por isso, o mais eficiente (embora não seja o mais fácil) é coletar todo e qualquer resíduo, inclusive os organismos incrustantes e transferi-los para uma base em terra para que possam ser adequadamente descartados.
Figura 3. Organismos incrustantes na superfície da concha de duas ostras do mangue.
Conchas e demais resíduos sólidos
As conchas são ricas em cálcio e possuem grande potencial de aproveitamento para agricultura (para correção do solo), na pecuária (alimentação animal), na fabricação de tijolos, no calçamento de ruas, como base para o artesanato, e até na indústria farmacêutica (para a formulação de medicamentos para reposição de cálcio).
Mas, sem uma cadeia produtiva suficientemente estruturada, na maioria das vezes, depois das ostras serem consumidas, suas conchas são descartadas em locais e de forma inadequados, gerando um forte mau cheiro, atraindo moscas e podendo causar doenças.
De fato, não é fácil dar uma destinação adequadas às conchas ou aos demais resíduos gerados ao longo dos cultivos (organismos incrustantes, animais mortos e materiais utilizados em embalagens em geral, cordas e redes usadas, partes inutilizadas das próprias estruturas de produção, além de resíduos produzidos pelos trabalhadores, incluindo restos de alimentos e fezes humanas). Porém, para evitar problemas ambientais com a produção e o descarte de resíduos, o produtor precisa desenvolver um plano de manejo de resíduos sólidos (conchas, por exemplo) e líquidos (combustíveis, por exemplo).
Obviamente que esses procedimentos são complexos por isso, é recomendado que os produtores se preocupem sempre em buscar meios de reduzir o uso de materiais que possam gerar resíduos sólidos. O uso de materiais reutilizáveis ou recicláveis também pode ser uma ótima alternativa. Além de reduzir resíduos, o produtor fará uma boa economia.
Por fim, como não há uma solução única para esses descartes, cada produtor deve buscar soluções específicas e adequadas para o seu caso. Independentemente das alternativas encontradas, duas coisas jamais devem ser feitas: 1) eliminar os resíduos diretamente no mar; 2) eliminar os resíduos de uma forma que prejudique os vizinhos.
Figura 4. Resíduos da ostreicultura: conchas de ostras mortas.
O que é vazio sanitário e quando adotá-lo?
Vazio sanitário é um período em que o cultivo de ostras deixa de ser feito em uma determinada área para que o ambiente possa se recuperar das eventuais alterações causadas durante um ou mais ciclos de produção.
Essa parada também pode ser empregada na tentativa de se controlar a ocorrência de doenças contagiosas ou pragas em uma determinada área.
Durante o vazio sanitário, o ideal é que as estruturas de cultivo sejam retiradas do local, limpas e desinfetadas, antes de serem utilizadas novamente. Caso não haja condições de serem retiradas do local, pelo menos elas não devem ser utilizadas para a manutenção das ostras durante este período.
Por que é importante manter a higiene dos materiais e equipamentos usados no cultivo?
A palavra HIGIENE tem origem na palavra grega hygieine, que significa saúde. Para garantir a saúde das ostras, dos manipuladores de ostras e dos próprios consumidores é fundamental que os materiais e equipamentos que entrarão em contato direto ou indireto com as ostras estejam em perfeita condição de higiene. Ou, em outras palavras, sem a presença de resíduos e/ou contaminantes que possam alterar a qualidade deste alimento e, consequentemente, colocar em risco a saúde do consumidor.
As etapas do processo de higienização de materiais e utensílios utilizados na ostreicultura devem envolver:
Figura 5. Etapas de higienização.
O processo de limpeza de equipamentos deverá seguir as seguintes etapas:
1. Antes de iniciar o processo de limpeza, os materiais e equipamentos deverão passar por uma pré-lavagem, que consistirá na retirada de sujidades facilmente visíveis a olho nu. Esta pré-lavagem poderá ser feita pela raspagem das sujidades com espátula, faca ou outro utensílio que promova a retirada de resíduos sem comprometer o material ou equipamento. Também poderão ser empregados equipamentos de alta pressão de água (jateamento) e escovas.
Figura 6. Estruturas de cultivo apresentando lodo e organismos incrustantes, que prejudicam a circulação de água dentro das estruturas e dificultam a alimentação e respiração das ostras.
2. O material ou equipamento passará pela etapa de limpeza propriamente dita, que consistirá na remoção de sujidades de pequenas dimensões com o uso de água e detergente. Nesta etapa também poderá ser feito uso de esponjas e escovas, por exemplo.
3. Após a limpeza, o material ou equipamento deverá ser enxaguado em água corrente limpa, retirando todos os resíduos de detergente.
Figura 7. Estruturas de cultivo após limpeza.
Além disso, o empreendimento deverá garantir, no mínimo, o cumprimento das seguintes medidas:
- Equipamentos utilizados no empreendimento (como motores para compressores e embarcações, bombas, guinchos, colheitadeiras mecanizadas, entre outros) devem ser submetidos à manutenção periódica, a fim de garantir o seu correto funcionamento para reduzir impactos ambientais e sociais.
- As estruturas e todos os demais equipamentos e utensílios utilizados no empreendimento devem ser de material atóxico.
- O trânsito de barcos deve ser reduzido dentro e perto da instalação do cultivo, observando-se o determinado pela legislação vigente.