Por Camila Prestes dos Santos Tavares
A astaxantina é um carotenoide amplamente distribuído na natureza, principalmente no meio marinho. Este pigmento carotenoide é abundante na carne de salmonídeos, carapaça de muitos crustáceos (camarão, caranguejo, lagostas e lagostins) e também em outros organismos marinhos, como micróbios e microalgas.
A astaxantina é usada principalmente como fonte de pigmentação na aquicultura e suplementos dietéticos na indústria de alimentos, bem como aplicações em nutracêuticos e farmacêuticos. Este pigmento é responsável pela coloração vermelho-rosado à carne de salmões, trutas, peixes ornamentais, camarão, lagostas e lagostins, que contribui com o preço e aceitação do produto no mercado consumidor. Os animais aquáticos geralmente apresentam pouca capacidade de sintetizar bioquimicamente a astaxantina e, portanto, exigem que o pigmento seja adicionado na dieta para adquirir a coloração desejada.
Além de ser uma ótima fonte de pigmentação, a astaxantina é um poderoso antioxidante, cerca de 10 vezes mais eficaz que outros carotenoides. A propriedade antioxidante superior em comparação com outros carotenoides é em grande parte atribuída à sua forte capacidade de doação de elétrons como redução para neutralizar os radicais livres produzidos de forma endógena e convertê-los em produtos mais estáveis ao mesmo tempo em que terminam a reação em cadeia dos radicais livres nos organismos vivos.
A astaxantina ganhou interesse comercial e científico devido às suas amplas implicações para a saúde em organismos aquáticos. Atualmente, existem muitas linhas de pesquisa que evidência que o uso da astaxantina na suplementação alimentar gera um impacto significativo no desempenho reprodutivo e na produção e qualidade de ovos de animais aquáticos (Tabela 1). Isso porque, a capacidade antioxidante da astaxantina evita a peroxidação ou dano oxidativo das células ou dos tecidos reprodutivos.
Tabela 1. Efeito da astaxantina no desempenho reprodutivo de animais aquáticos FONTE: (Lim et al. 2017).
O papel benéfico da astaxantina também tem sido investigado como um aditivo essencial para o crescimento e sobrevivência de vários animais aquáticos. Algumas pesquisas revelaram correlações positivas significativas entre a suplementação dietética de astaxantina e crescimento ou sobrevivência, ou ambos, em diferentes peixes e crustáceos (Tabela 2). Pois, esse carotenoide desempenha um papel vital no metabolismo intracelular de animais aquáticos, que consequentemente, afeta as funções fisiológicas e aumenta a utilização ou a assimilação dos nutrientes, resultando em uma intensificação do desempenho do crescimento. Já a melhoria na sobrevivência, está intimamente ligada à sua propriedade antioxidante, que assegura as funções celulares e confere melhorias fisiológicas.
Tabela 2. Efeito da astaxantina no crescimento e sobrevivência de diferentes animais aquáticos. FONTE: (Lim et al. 2017).
Outro aspecto interessante da astaxantina é o seu papel no aumento dos níveis de ecdisteróides na hemolinfa que por meio de interações metabólicas são então hidroxiladas e transformadas em forma bioativa de hormônio estimulante da muda, tendo assim uma influência mensurável sobre a fisiologia da muda nos crustáceos.
Além dos benefícios citados, alguns estudos demonstraram que o uso da astaxantina na dieta minimiza o estresse e aumenta a imunidade de muitos animais aquáticos (Tabela 3). As doenças infecciosas na aquicultura, particularmente durante os estágios iniciais da produção, é a principal ameaça que contribui para impactos econômicos significativos em todo o mundo. A maioria dos estudos existentes sobre tolerância ao estresse e resistência a doenças tem sido dedicada aos camarões, principalmente as doenças mais letais como a síndrome da mancha branca (WSSV) e a Necrose Hipodérmica e Hematopoiética Infecciosa (IHHN).
Tabela 3. Efeito da astaxantina na tolerância ao estresse e resistência à doença de diferentes animais aquáticos. FONTE: (Lim et al. 2017).
Devido às diversas aplicações e benefícios da astaxantina, muitas empresas estão se concentrando na produção e comercialização desse pigmento, principalmente extraído da microalga Haematococcus pluvialis. O valor de mercado total excedeu US $ 447 milhões em 2014 com produção estimada de 280 toneladas, porém devido ao seu grande potencial na indústria aquícola estima-se que deverá superar US $ 1,1 bilhão em 2020, e uma produção equivalente a 670 toneladas.
Figura 1. Cultivo de Haematococcus pluvialis da Algatechnologies Ltd., empresa líder mundial na produção de astaxantina obtida a partir de microalgas. A empresa está localizada no deserto de Arave em Israel. FONTE: www.algatech.com.es