Por: Ana Paula da Silva Bertão
Diversas espécies do grupo pertencente aos crustácea podem parasitar peixes em ambientes de água doce, salobros e marinhos, e a maioria deles são ectoparasitas (Thatcher, 2006; Luque e Poulin, 2007; Ferreira Junior et al., 2018). Entre eles destacam espécies de Branchiura (Thorell, 1818); Copepoda (Milne-Edwards, 1940); e Isopoda (Latreille, 1871). Na América do Sul, existem cerca de 744 espécies de copépodes, 187 espécies de isópodes e 133 espécies de branquiurianos que parasitam peixes marinhos e de água doce (Luque e Poulin, 2007). Esta região inclui a bacia do rio Amazonas, que é uma das mais extensas bacias hidrográficas do mundo, ocupando 40,2% da América do Sul e abrangendo parcialmente os territórios de oito países e grandes sistemas hídricos com grande importância biogenética, construindo para o setor econômico, social e ambiental (Eler e Millani, 2007).
A piscicultura na região Norte é caracterizada pelo cultivo principalmente de espécies nativas como tambaqui (Colossoma macropomum), pintado (Psedudoplatistoma spp.) e pirarucu (Arapaima gigas) (Borges et al., 2015). Na produção destas espécies são utilizados diversos regimes de produção, como o extensivo, intensivo e superintensivo. Os sistemas com altas densidades de peixes, acabam favorecendo o aparecimento de doenças e parasitos. Isso é relatado em cultivos que não realizam manejos profiláticos adequados (Daskalov e Georgiev, 2001; Godoi et al., 2012; Tavares-Dias et al., 2015; Furtado et al., 2021). Os mais frequentes são as propriedades que utilizam abastecimento hídrico de qualidade inferior a adequada para o cultivo, não realizam quarentena quando novos lotes de peixes chegam à propriedade, utilizam equipamentos ou materiais (redes, puçás, baldes, botas e outros) que não foram desinfectados utilizados em outras pisciculturas, além de não terem ações que impeçam a entrada de possíveis vetores carreadores de parasitos ou doenças Bewg e Wkbemet (2008), Tavares-Dias et al. (2011); Souza et al. (2015); Suguna (2020).
Figura 1. (A) Espécime de Perulernaea gamitanae coletado de tambacu. (B) Região da cavidade oral de Colossoma macropomum com parasitas aderidos. (C) Região inchada (seta) em brânquias, com parasitas aderidos. (D) Cavidade oral de C. macropomum com infestação maciça de P. gamitanae. a: achor; b: corpo; es: saco de ovo
Com essas práticas de manejo inadequadas portas se abrem para doenças e parasitos com características superagressivas aos peixes cultivados. Uma espécie parasitando tambaqui é relatada frequentemente causando diversos problemas em pisciculturas amazônicas. A Perulernaea gamitanae (Thatcher e Paredes, 1985) foi descrita no rio Amazonas no Peru, e logo foi identificado causando problema no Brasil (Benetton e Malta, 1999; Thatcher, 2006; Delgado et al., 2011). Esta espécie causa lernaeose, uma doença que pode levar a efeitos patogênicos graves em seus hospedeiros (Lester e Hayward, 2006). Os copepoditos (formas jovens), podem causar ruptura e necrose no epitélio das brânquias dos peixes, e a fixação em fêmeas adultas geralmente resultam em hemorragia, necrose muscular e uma intensa resposta inflamatória, que às vezes está associada a infecções bacterianas secundárias (Benetton e Malta, 1999; Ahmed e Shahid, 2000; Lester e Hayward, 2006; Nematollahi et al., 2013; Abadi e Hismayasari Andwaliyatun, 2021).
Figura 2 Perulernaea gamitanae
Essas infestações de lerneose são gerados aos piscicultores prejuízos econômicos adicionais, com tratamentos sanitários, perda de biomassa e mortalidade dos peixes, o que acarreta custos irreparáveis somados as despesas da produção (Nematollahi et al., 2013; Nofal et al., 2016; Nobile et al., 2020; Abadi e Hismayasari Andwaliyatun, 2021).