Caranguejo-uçá: o caranguejo que habita os manguezais brasileiros
Por: Gisela Geraldine Castilho-Westphall
Publicado em: 07/01/15
FIGURA 1. Ucides cordatus, o caranguejo-uçá.
Conhecido popularmente por caranguejo-uçá, Ucides cordatus pertence ao Filo Arthropoda, Subfilo Crustacea, Ordem Decapoda, Infraordem Brachyura, Família Ucididae, Gênero Ucides e Espécie Ucides cordatus.
É um animal endêmico de manguezais da costa atlântica do continente americano (Figura 1) e encontrado do estado da Flórida (EUA) ao litoral de Santa Catarina (BR). Habita regiões influenciadas pelas marés, em substratos moles (lama), característicos de ecossistemas de manguezais. Nestes locais ele constrói tocas que chegam a ter até dois metros de profundidade.
FIGURA 2. Mapa do continente americano com a distribuição das espécies do gênero Ucides.
Considerado um dos componentes biológicos mais importantes dos manguezais, o caranguejo-uçá contribui com a degradação de matéria orgânica. Este processo de degradação está relacionado ao seu hábito alimentar, que inclui detritos de origem vegetal. No Brasil, o caranguejo-uçá possui grande importância econômica para populações de baixo poder aquisitivo, que dependem de sua captura como fonte de renda e alimento.
Com o resultado do intenso extrativismo, da degradação dos manguezais e do surgimento de novas doenças que afetam o caranguejo-uçá, tem-se observado uma redução dos estoques pesqueiros (quantidade de caranguejo-uçá disponível para captura) no litoral brasileiro.
O caranguejo-uçá, Ucides cordatus, possui duas fases larvais chamadas zoea e megalopa. A fase de zoea possui seis estádios e a de megalopa apenas um. Porém, acredita-se que em ambiente natural existam apenas cinco estádios de zoea, sendo o sexto um estádio supranumerário, resultante de condições ambientais inadequadas.
FIGURA 3. Fases da vida do caranguejo-uçá. (A) Larvas em desenvolvimento ainda no ovo, (B) zoea, (C) megalopa E (D) “crab”, Ucides cordatus juvenil, embora muito pequeno, já possui aparência de um caranguejo.
Em larviculturas realizadas em ambiente de laboratório foi relatada a ocorrência da Síndrome da Morte na Muda, que consiste na dificuldade de larvas em estádio seis transformarem-se em megalopas, morrendo durante o processo de muda. O mecanismo de desenvolvimento desta síndrome ainda não é bem descrito, mas acredita-se que esteja relacionado a condições ambientais inadequadas.
Megalopa é o último estádio antes da transformação para juvenil e seu tamanho médio é de 3 mm. A muda completa de ecdises até estádio de megalopa ocorre em aproximadamente um mês, podendo sofrer modificações por influência de fatores bióticos e abióticos.
Durante o primeiro estádio juvenil, que ocorre logo após a ecdise da megalopa, os exemplares têm tamanho reduzido de cerca de 1,5 mm de largura de cefalotórax e ocorrem predominantemente dentro de galerias de caranguejos maiores, nas zonas menos inundadas do manguezal.
As eclosões de larvas zoea ocorrem de forma sincronizada. Em geral, as fêmeas liberam as larvas nos manguezais inundados, no estofo de maré, antes das marés vazantes e os picos de emissão larval ocorrem nas marés de maior amplitude, em torno das luas cheia ou nova. Durante os picos de emissão larval, observam-se densidades iniciais de zoea I que chegam a 23.000 larvas/m³.
Os estádios seguintes de zoea, dependendo das condições geográficas locais, podem permanecer em zonas estuarinas durante as suas três ou quatro semanas de desenvolvimento; ou apresentam mecanismos de dispersão, afastando-se dos manguezais das populações parentais em direção à costa.
Assim como os demais decápodes pertencentes à infraordem Brachyura, Ucides cordatus apresenta abdome reduzido, localizado abaixo do cefalotórax. O cefalotórax, ou carapaça, tem largura maior que comprimento e é achatado dorso-ventralmente.
Os quelípodos, primeiro par de pereiópodos (apêndices locomotores), são na maioria das vezes desiguais em macho e fêmeas e são utilizados na apreensão e manipulação dos alimentos, na defesa e ataque durante brigas e no processo de corte. Em machos, a partir do segundo par de pereiópodos, há longas cerdas que formam uma franja, especialmente no carpo e própodo. Nas faces opostas da coxa do terceiro e quarto pereiópodos esta franja é reduzida ou ausente.
O abdome é dividido em segmentos (somitos), que possuem os pleópodos, apêndices que variam em quantidade entre machos e fêmeas. Nas fêmeas, os pleópodos armazenam os ovos durante o período de incubação, enquanto que nos machos conduzem os espermatóforos (estruturas acelulares contendo espermatozoides) até as fêmeas.
FIGURA 4. Diferença entre o abdome de fêmeas e de machos de Ucides cordatus.
É muito importante ficar atento ao período de defeso do caranguejo-uçá em sua região. O período de defeso é quando está proibida “a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, o armazenamento e a comercialização de indivíduos da espécie Ucides cordatus, popularmente conhecido como caranguejo-uçá, bem como suas partes isoladas (quelas, pinças, garras ou desfiado).”
O período de defeso ocorre durante o verão e geralmente se inicia em janeiro e termina em março ou abril, mas este período pode sofrer variação entre os estados brasileiros. Portanto, é muito importante ficar atento ao período de defeso de sua região. Fora do período de defeso apenas a comercialização de caranguejos machos é permitida.
O defeso e a proibição da venda de fêmeas são procedimentos muito importantes para proteger a espécie, dando a ela possibilidade de se reproduzir.
Atenção! Em breve será possível conhecer aspectos nunca antes descritos sobre a anatomia e a histologia de zoea, megalopa e adultos de Ucides cordatus. O GIA produziu um Atlas que está em fase final de editoração e serão publicado pela Editora UFPR em 2015.
FIGURA 5. Prévia da capa do Atlas anatômico e histológico do caranguejo-uçá (Ucides cordatus)