DOUTORANDA: CAMILA PRESTES DOS SANTOS TAVARES
Projeto de Pesquisa: “Investigação de patógenos virais associados à mortalidade de Callinectes spp. (Crustacea, Decapoda, Portunidae) em sistemas de produção de siri-mole”
Os siris são importantes recursos pesqueiros em diversos países e reconhecidos pelo seu grande potencial para a aquicultura. Uma das formas mais lucrativas de comercialização é a sua venda como siri-mole. O termo “siri-mole” não se refere a uma espécie específica de siri, mas a uma etapa do ciclo de crescimento de qualquer espécie de siri, chamada de ecdise, no qual seu antigo exoesqueleto rígido é descartado e substituído por um novo exoesqueleto hidratado e ligeiramente macio (assista ao vídeo
Se forem abatidos logo após a ecdise, os siris podem ser consumidos inteiros, o que os torna uma iguaria muito apreciada. Devido ao seu interesse gastronômico, os siris-moles podem ser vendidos até sete vezes o preço pago por siris duros. A produção de siri-mole é considerada como uma prática de aquicultura multimilionária no leste dos Estados Unidos. Entre 2010 e 2015 foram capturados aproximadamente 950 mil toneladas de siris nos Estados Unidos, pouco mais de 4 mil toneladas foram aplicados na produção de siri-mole, rendendo cerca de 27 milhões de dólares.
A produção de siri-mole é baseada essencialmente na coleta de siris, em estágio de pré-muda, diretamente do ambiente e na sua manutenção em instalações de cultivo, até que os animais atinjam o estágio de muda (Figura 1). Apesar de ser uma atividade altamente lucrativa, existem alguns fatores que limitam a produção de siris-moles. Um dos principais fatores que limitam essa cadeia produtiva é a alta taxa de mortalidade (25% a 50%) que afeta os animais mantidos em cultivo. A mortalidade resulta em perda de tempo e esforço para os produtores e perda de recursos pesqueiros.
A alta taxa de mortalidade tem sido atribuída à baixa qualidade da água nos sistemas de cultivo, ao estresse durante a coleta e o transporte e ao estresse fisiológico no processo de muda. Além disso, a combinação do estresse associado à captura, ao manejo de cultivo e ao processo de muda pode tornar os siris mais suscetíveis à infecção por organismos patogênicos, especialmente vírus. Os siris podem ser infectados por um amplo espectro de microrganismos patogênicos, que podem afetar a produção comercial de siri-mole. No entanto, um reovírus, CsRV1 (também chamado de RLV para Reo-Like Virus, ou CsRV), ganhou atenção de pesquisadores e aquicultores porque tem sido associado a episódios agudos de mortalidade de siris nos Estados Unidos.
Um recente estudo com a aplicação de técnicas moleculares quantitativas sensíveis para CsRV1, mostrou uma prevalência média de 75,4% nos siris que morreram em oito sistemas de cultivo de siri-mole em Maryland e Virgínia, EUA. Além disso, o CsRV1 está presente em até 20% nas populações de Callinectes sapidus da baía de Chesapeake nos Estados Unidos e na Lagoa dos Patos no sul do Brasil. Análises genéticas indicaram que a linhagem brasileira de CsRV1 apresenta algumas divergências genéticas em relação à linhagem americana. Entretanto, a prevalência e a virulência da linhagem brasileira de CsRV1 em Callinectes sapidus mantido em instalações de aquicultura, bem como a infectividade em outras espécies produzidas como siri-mole, como C. danae, ainda não foram investigadas.
Para que a produção de C. sapidus e C. danae na forma de siri-mole em escala comercial possa vir a se tornar realidade no Brasil, ainda é necessário se avançar em conhecimentos sobre os patógenos virais que causam mortalidade nos siris cultivados. Para tanto, estão sendo analisadas a prevalência e carga viral de patógenos virais e a relação com a mortalidade de duas espécies de siri-azul, C. sapidus e C. danae, mantidos em instalações de aquicultura.
A presente pesquisa irá fornecer informações para o desenvolvimento de condições de cultivo que minimizem as perdas por mortalidade e poderá contribuir para o desenvolvimento e otimização do processo de produção de siri-mole. Além disso, a produção de siri-mole do Brasil tem potencial para constituir um importante recurso de exportação, principalmente para os EUA, onde as espécies que estão sendo estudadas no presente estudo são preferidas pelos consumidores das costas do Atlântico e do Golfo.
Possui graduação em Tecnologia em Aquicultura pela Universidade Federal do Paraná (2013), mestrado em Zoologia (2017), e atualmente é doutoranda em Zoologia, pela mesma instituição, e pesquisadora do Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais – GIA. Tem experiência com aquicultura atuando com produção de organismos aquáticos.
- Orcid https://orcid.org/0000-0002-0475-1835
- Latteshttp://lattes.cnpq.br/4331672656980316