Utilização de peixes como bioindicadores
Por: Thayzi Zeni
Publicado em 27/09/14
Bioindicadores podem ser considerados como sendo espécies sentinelas utilizadas como primeiros indicadores de efeito da contaminação de um habitat (Adams, 2002). Estes organismos respondem a agentes químicos, alterando suas funções vitais ou acumulando toxinas (Carneiro e Takayanagui, 2009). Estes podem responder biologicamente, em nível de organismo, ou ainda em níveis inferiores, como órgãos, tecidos e/ou células, por meio de alterações bioquímicas, fisiológicas e/ou comportamentais (Capela, 2001). Desta maneira são capazes de fornecer informações necessárias para a análise de risco ecológico e estudos de impacto ambiental (Arias et al., 2007).
Considera-se que um bioindicador deva apresentar resistência ao agente ao qual está exposto (Akaishi, 2004). Os bioindicadores, portanto, não morrem quando expostos a agentes tóxicos e são capazes de fornecer informações, por meio de reações comportamentais ou metabólicas mensuráveis, que indicam e refletem mudanças do ambiente onde estão (Walker, 1995).
Para ser utilizado como bioindicador, o organismo deve apresentar algumas características básicas. Este deve possuir tamanho suficiente permitindo à obtenção de material biológico necessário a realização de análises propostas (Stewart e Malley, 1997) (Figura 1). Deve ser de fácil identificação e de fácil coleta durante todas as épocas do ano (Akaishi, 2004). Deve também apresentar hábito sedentário ou de baixa mobilidade formando populações fixas a fim de que sua exposição aos agentes químicos possa refletir as reais condições da região de estudo (Radtke, 1979).
Figura 1. Colheita de sangue de um exemplar de pacu (Metynnis maculatus).
A facilidade de adaptação dos organismos às condições laboratoriais também é um aspecto que facilita o uso do bioindicador no desenvolvimento de um estudo (Akaishi, 2003) (Figura 2). O fato de estes organismos poderem ser reproduzidos em laboratório em condições ambientais controladas também é de suma importância para o desenvolvimento de pesquisas.
Figura 2. Jundiás (Rhandia quelem) adaptados às condições laboratoriais.
Entre os fatores que estimulam a ampla utilização de peixes como bioindicadores estão os mecanismos de resposta à contaminação por substâncias tóxicas, considerados muito similares aos dos grandes vertebrados. Os peixes, assim como os mamíferos, possuem mecanismos de bioconcentração, no qual o agente químico é acumulado pela biota por meio da água, e também a biomagnificação, na qual o agente químico é absorvido por intermédio da cadeia alimentar (Hedouin et al., 2006; Weisbrod et al., 2007, Kehrig et al., 2011).
Outra característica importante é que, devido ao fato de serem utilizados como fonte de proteína animal para a alimentação humana e estarem distribuídos em diferentes níveis tróficos da cadeia alimentar, os peixes são considerados grandes veículos de transferência de contaminantes do meio para os seres humanos (Al-Sabti e Metcalfe, 1995). Outros fatores que contribuem para a utilização de peixes como bioindicadores estão sua ampla distribuição demográfica (Jesus e Carvalho, 2008) e o pequeno tamanho corpóreo que algumas espécies apresentam durante o ciclo de vida (Zhou et al.,2008). Todos esses fatores facilitam a captura dos animais no ambiente, permitindo o monitoramento e a manutenção em condições laboratoriais.
O uso de peixes como bioindicadores consiste, portanto, em uma importante ferramenta para o monitoramento de ambientes impactados por agentes químicos. Isto porque, devido a adaptações anatômicas, comportamentais e fisiológicas do grupo, estes animais podem ocupar vários ambientes aquáticos, sob condições ambientais diversas.
Referências
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AKAISHI, F. M., SILVA DE ASSIS, H. C., JAKOBI, S. C. G., EIRASSTOFELLA, D. R., ST-JEAN, S. D., COURTENAY, S. C., LIMA, E. F., WAGENER, A. L. R., SCOFIELD, A. L., OLIVEIRA RIBEIRO, C. A., 2004. Morphological and neurotoxicological findings in tropical freshwater fish (Astyanax sp.) after waterborne and acute exposure to water soluble fraction (WSF) of crude oil. Archives of Environmental Contamination and Toxicology, 46 (2): 244-253
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