Adaptações de peixes a variações de temperatura
Por Thayzi O. Zeni
Publicado em 12/06/2015
Quando acontecem aumentos abruptos de temperatura em ambientes aquáticos, alguns peixes, como por exemplo a carpa comum (Cyprinus carpio) são capazes de elevar suas frequências respiratória e cardíaca, a qual ocorre devido ao aumento de seu metabolismo (Baldisserotto, 2009). O aumento na frequência cardíaca é essencial para compensar o aumento das taxas metabólicas em geral.
Os peixes também podem realizar a reorganização do metabolismo celular. Quando expostos a temperaturas diferentes das que estão acostumados, eles utilizam vias metabólicas diferentes (Randall et al., 2000), como por exemplo, mudanças na síntese de enzimas, na concentração de substrato e/ou produtos das rotas metabólicas e de moduladores de reações enzimáticas. Segundo Prosser (1967) os processos de adaptação térmica em peixes estão relacionados às alterações funcionais do sistema nervoso. As funções sinápticas são extremamente sensíveis a alterações de temperatura, de modo que a sinapse é considerada a principal área adaptativa do sistema nervoso.
Quando a temperatura da água diminui, os peixes tendem a reduzir as suas taxas metabólicas, permitindo uma economia de reservas corporais, característica importante visto que em locais com baixa temperatura existe baixa disponibilidade de alimento (Pough et al., 2003). A enguia americana (Anguilla rostrata), por exemplo, em ambientes com baixa temperatura (águas abaixo de 8˚C) param de se alimentar e se enterram na lama. A maioria das espécies de peixe, entretanto, não se enterra, apenas fica imóvel para reduzir o gasto energético (Baldisserotto, 2009).
A ameaça à vida em baixas temperaturas não é apenas o frio, mas também a impossibilidade de evitar a formação de gelo nos tecidos. Verde et al. (2011) comenta que o corpo dos animais são compostos por grande quantidade de água, sendo que a formação de cristais de gelo pode ser letal visto que a sua formação perturba o equilíbrio entre os fluidos externos e internos das células, o que resulta em encolhimento celular e dano irreversível aos tecidos afetados. Para que isso não ocorra, algumas espécies produzem glicoproteínas anticongelantes (GA) (Figura 1). De acordo com Verde et al. (2006) peixes que habitam os dois polos possuem estas glicoproteínas e estas constituiriam um clássico exemplo de adaptação independente.
Figura 1. Os “notothenioids” possuem glicoproteínas anticongelantes, a qual permite que estes sobrevivam à condições polares (Foto: Divulgação / Universidade Yale). Fonte: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/02/peixes-da-antartida-estao-ameacados-por-mudanca-climatica-diz-estudo.html