Exploração de ostras no litoral paranaense
Por Aline Horodesky
Publicado em 14/10/2015
As baías localizadas no estado do Paraná suportam uma intensa atividade pesqueira, ainda que praticada em escala artesanal, realizada por comunidades que habitam as margens do estuário. Algumas das comunidades que vivem ao entorno dessas baías têm relatado um decréscimo acentuado na produtividade pesqueira, buscando na aquicultura, alternativas para geração de alimento e de renda.
Fig. 1: Comunidades ribeirinhas que vivem nas margens dos estuários buscando alternativas de renda.
Nessa região formam-se bancos naturais de ostras em locais de fácil acesso pelos cultivadores, propiciando a coleta desses organismos. Contudo, com a intensa exploração desses bancos os cultivadores têm tido dificuldades de coletar organismos com tamanhos satisfatórios para comercialização. Frente a esta realidade, as comunidades estão preocupadas com a extração desordenada, pois a sustentabilidade da atividade poderá ser prejudicada.
Fig. 2: Extração de ostras do ambiente natural.
Alguns manguezais da costa brasileira são classificados entre “bons” – perda menor que 50% na abundância de ostras – e “razoáveis” – redução entre 50% e 89% dos estoques originais. Acredita-se que a exploração com objetivos comerciais de ostras no Brasil, de forma exploratória e sem o correto gerenciamento, seja determinante para o declínio dos estoques naturais.
Fig. 3: Manguezal encontrado no litoral paranaense.
A construção de um plano eficiente de gerenciamento dos estoques passa pelo conhecimento e a quantificação das populações de ostras presentes no ambiente. No entanto, os estudos de estimativas populacionais realizados o Brasil têm utilizado basicamente bancos de mesolitoral, provavelmente pela dificuldade de acesso aos bancos de infralitoral. Embora existam trabalhos muito bem detalhados de levantamentos em mesolitoral, a quantificação de animais em regiões submersas ainda é uma lacuna no Brasil.
Se, por um lado, há indícios de que já estejam ocorrendo problemas ambientais com os bancos naturais, por outro, a comercialização de ostras contribui para a geração de renda em diversas comunidades do litoral paranaense. Contudo, ostras são extraídas sem qualquer controle ou planejamento a partir de bancos naturais e vendidas em tamanho comercial (para o consumo) ou ainda como sementes (para maricultores).
Fig. 4: Ostras sendo extraídas do ambiente para comercialização.
O panorama da cadeia produtiva de ostras no Paraná vislumbra muitos desafios a serem superados e, ao mesmo tempo, reforça a necessidade de ações planejadas e bem estruturadas, que busquem sua organização. Este processo deve envolver muitos atores da comunidade local, instituições de ensino, empresas privadas e órgãos públicos, mas também precisa ser embasado em informações científicas que possam subsidiar o processo de desenvolvimento ordenado da atividade.
Fig. 5: Cultivo de ostras realizado como alternativa para obtenção de renda.
O cultivo de ostras na Baía de Paranaguá e Baía de Guaratuba vêm despertando um grande interesse, tanto de pescadores como das autoridades locais, até mesmo como uma alternativa quando há proibição da pesca predatória. Daí a importância do conhecimento da biologia e da ecologia das espécies envolvidas para que se possa estabelecer uma metodologia de ostreicultura adequada às condições locais, sem que a exploração dos bancos naturais de reprodutores e de sementes provoque um colapso nos estoques regionais de ostras. Este é o desafio a ser superado.
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