Falta de chuva ou de planejamento?
O desrespeito e a falta de consciência na utilização dos recursos naturais já trazem para a sociedade uma série de problemas que foram e continuam sendo previstos por cientistas de todo o mundo. Previsões pessimistas, aliás, que têm se confirmado, infelizmente.
Ao não se tomar medidas sérias e imediatas em relação à conservação ambiental e ao uso sustentável da água, não será apenas o futuro do planeta que estará comprometido, mas sim o bem estar atual da nossa sociedade. Ou seja, não se está mais falando de séculos e sim da nossa própria geração.
O comprometimento dos recursos hídricos exerce forte impacto no desenvolvimento da agropecuária, no crescimento da indústria, na expansão do comércio e no abastecimento de nossos próprios lares. Portanto, este é um tema que afeta e diz respeito a todos.
Entretanto, como pode ser facilmente comprovado, o modelo atual de gestão dos recursos hídricos não é suficiente para reverter o grave quadro que se apresenta. Além da maior cidade do país vivendo sob a ameaça concreta de um racionamento de água, várias cidades da região Sudeste já passam por esse racionamento levando a uma situação de, no mínimo, atenção. Há hoje um conflito declarado entre São Paulo e Rio de Janeiro pelas imprescindíveis mas limitadas águas do rio Paraíba do Sul. Os apagões se tornam cada vez mais frequentes. Ameaças, cada vez mais reais, de racionamento de luz, além do aumento da dependência das poluidoras termoelétricas. Custos cada vez mais elevados para tratamento de água, tanto para consumo quanto para utilização industrial, pois a água está cada vez mais escassa e poluída.
Será que a questão da água se resume apenas a chover ou não chover? Obviamente que não. É preciso mais planejamento. É preciso um maior envolvimento da sociedade com a questão dos recursos hídricos. É preciso incentivar a cidadania de pessoas e empresas em relação a estes recursos hídricos. É preciso que o setor público compreenda que seu papel deveria ir muito além de cobrar impostos e criar taxas, sem conseguir devolvê-los na forma de serviços eficientes à população. Por fim, se ainda parece ser um pouco utópico exigir das indústrias que enxerguem que sua função social deve ir além de simplesmente cumprir a lei, é fácil mostrar a elas que racionalizar o processo de uso da água é fundamental para garantir a sua competitividade em um mercado cada vez mais globalizado.
O que se observa hoje, entretanto, é uma situação (que será mais detalhada a seguir) em que as indústrias são obrigadas a pagar pelo uso da água, aumentando seus custos que, obviamente, serão repassados aos consumidores. Por outro lado, os recursos arrecadados são insuficientes sequer para que o Poder Público possa garantir que a longo prazo as empresas continuarão tendo acesso à própria água ou à energia gerada a partir de fontes hídricas. Mais uma vez, há algo errado nessa equação!
Antonio Ostrensky