Sargo (Archosargus probatocephalus)
O sargo é um peixe da família Sparidae que apresenta um bom potencial para cultivo. Ele consegue se adaptar a uma grande amplitude de condições ambientais e pode chegar a até 14 kg. Estima-se que em condições de cultivo o peixe possa atingir o tamanho de mercado (0,5 kg) em um ano (Landau, 1992).
De modo geral as espécies de sargo adaptam-se facilmente a sistemas intensivos de criação e a dietas formuladas, apresentando boas taxas de crescimento (Lazo et al., 1998). Estas características podem favorecer a sua produção comercial, embora as taxas de conversão alimentar até então obtidas não serem ainda muito satisfatórias (Heilman & Spieler, 1999), o que suscita a necessidade de desenvolver rações que atendam as suas exigências nutricionais e proporcione melhor eficiência alimentar.
Robalo-peva (Centropomus parallelus) e Robalo-flecha (Centropomus undecimalis)
Os Centropomídeos são peixes marinhos, eurihalinos, encontrados em ambientes com grande variação de salinidade, tanto no mar, como em água de ambientes transacionais (salobros) e ambientes continentais (dulcícola) (Pierângeli et. al., 1998). Podem ser capturados em praias arenosas, porém preferem locais com substratos duros e desembocaduras de rios. Aliás, apresentam grande afinidade por água doce, o que coloca esse grupo como potencialmente cultivado também em águas continentais.
São peixes de grande importância econômica e social (Pierângeli et. al., 1998), de carne nobre e excelentes características organolépticas (Tucker Jr. et. al., 1985), o que confere alto valor comercial à espécie (Cavalheiro & Pereira, 1998).
O robalo é um peixe que se adapta relativamente bem ao cativeiro, tanto os jovens quanto os adultos são muito resistentes às manipulações e variações dos parâmetros físico-químicos da água (Chapman et al., 1982).
As duas principais espécies de robalos que vêm, sendo avaliadas para uso na maricultura são o robalo-peva (Centropomus parallelus) e o robalo-flecha (Centropomus undecimalis). No entanto, o primeiro apresenta como grande limitação ao uso em cultivos comerciais a sua baixa taxa de crescimento, enquanto o segundo é relativamente mais raro na natureza e a tecnologia para sua reprodução e larvicultura ainda precisa ser melhor desenvolvida, não havendo produção regular de alevinos no país.
Carapeba branca (Diapterus rhombeus)
A caratinga ou carapeba (Diapterus rhombeus, Cuvier, 1829) é um Gerreidae muito conhecido nos ambientes costeiros do Sul e Sudeste do Brasil. É uma das espécies mais abundantes da baía de Guaratuba e também da baía de Paranaguá. Na primeira baía a espécie não apresenta variação sazonal de abundância, enquanto na segunda é mais abundante no verão (Chaves & Otto, 1998). Nessa região sua desova acontece provavelmente na primavera (Chaves, 1994).
Segundo a FAO (2005), a caratinga é uma das espécies com potencial para ser empregado na ainda recente piscicultura marinha brasileira. No entanto, ainda não existe nenhum registro de cultivo de caratinga em escala comercial e mesmo os dados experimentais a respeito do rendimento da espécie em cativeiro são bastante escassos.
Cioba (Lutjanus analis)
A família Lutjanidae engloba uma série de peixes demersais, como o ariacó, pargo, cioba, dentre outros, que se distribuem por regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo.
No Brasil, a pesca comercial de lutjanídeos vem sendo praticada desde a introdução das linhas pargueiras pelos portugueses nas décadas de 50 e 60 (Resende et al., 2003). No entanto, tal como acontece com muitos dos estoques pesqueiros mundiais, as pescarias desses peixes estão sendo praticadas além do seu rendimento máximo sustentável (Ault et al., 1998). Inclusive, a organização International Union for Conservation of Nature classificou a cioba (Lutjanus analis) como vulnerável e sob o risco de extinção (IUCN, 2000).
Além do grande interesse comercial envolvido na captura e comercialização de lutjanídeos, eles começam a despertar também o interesse como espécies de elevado potencial para a aquicultura. São características bastante favoráveis o fato de apresentarem ampla aceitação pelo mercado e valor relativamente elevado; aceitar bem alimentos peletizados; poderem ser mantidos em tanques-rede sem apresentar um comportamento agressivo; os juvenis apresentarem bom desempenho quando alimentados com dietas contendo ingredientes proteicos de origem vegetal e já ser possível realizar sua reprodução em condições ambientais controladas (Freitas, 2009).
Porém, apesar de tudo isso, a tecnologia de cultivo dos membros dessa família, e especialmente da cioba, ainda não está suficientemente desenvolvida a ponto de que possa ser empregada em empreendimentos realizados em escala comercial ou mesmo ser recomendada para um programa de zoneamento e fomento da maricultura, como é o caso dos PLDM. Por este motivo, a cioba, representando os lutjanídeos de uma forma em geral, está aqui classificada como “espécie potencial”. Uma espécie que possivelmente será empregada na maricultura brasileira, após o maior domínio das técnicas de cultivo e do desenvolvimento de insumos apropriados.
Linguado-vermelho (Paralichthys orbignyanus)
O sucesso do cultivo de P. olivaceus, principalmente no Japão, despertou o interesse em outras espécies de Paralichthys, que estão sendo estudadas com o objetivo de serem cultivadas em diferentes países. No Brasil, o linguado P. orbignyanus vem sendo considerado um bom candidato à piscicultura. Essa espécie possui a carne de alta qualidade e atinge um elevado valor de mercado, representando um importante recurso pesqueiro no sul do Brasil, (Cerqueira et al., 1997; Díaz de Astarloa & Munroe, 1998; Díaz de Astarloa, 2002).
O linguado tem sido alvo de pesquisas recentes no Sul do Brasil, especialmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (Walesiesky et al., 1994; Fonseca Neto & Spach, 1999; Bianchini et al., 1996; Cerqueira et al., 1997; Walesiesky et al., 1997; Sampaio, 2008). O objetivo desses trabalhos é desenvolver uma tecnologia que permita o cultivo comercial da espécie.
Além do elevado valor de mercado, da sua média ou alta vulnerabilidade ambiental (Cheung et al., 2005), outras características estimulam o cultivo do linguado. Entre elas podem ser destacadas a tolerância a uma ampla faixa de temperatura e salinidade (Wasielesky et al., 1995; 1998), a sobrevivência em águas ácidas (Wasielesky et al., 1997) e a resistência a concentrações elevadas de compostos nitrogenados (Bianchini et al., 1996). O crescimento do linguado é reduzido em cerca de 10-15% em água doce quando se compara com linguados produzidos em salinidades mais altas (Sampaio et al., 2001; Sampaio & Bianchini, 2002), mas a capacidade de sobreviver em água doce é muito importante, especialmente para o seu cultivo em regiões estuarinas, que enfrentam continua variação de salinidade.
Apesar do pouco tempo de estudo sobre o cultivo de linguado, as perspectivas para a sua produção comercial são animadoras e, em um futuro próximo, com o desenvolvimento de dietas artificiais para a fase engorda, a espécie pode vir a ser cultivada em larga escala.
Pampo (Trachinotus carolinus)
Nos Estados Unidos, desde 1952 existem relatos de pesquisas sobre a produção do pampo em cativeiro. Várias outras tentativas ocorreram durante as décadas de 1960 e 1970, porém sempre frustradas.
Quase todas as pesquisas envolvendo pampo foram realizadas com alevinos de animais selvagens, devido à falta de confiabilidade e imprevisibilidade das desovas de pampos em cativeiro. Na década de 1970, pampos juvenis foram cultivados em gaiolas de alumínio de 1m³ na Flórida, com algum sucesso. Esse tentativa mostrou que pampos juvenis podem ser cultivados com sucesso desde 7 g até o tamanho de mercado (cerca de 454 g) em 47 a 51 semanas.
Tanques e gaiolas de madeira foram usados na Venezuela na década de 1970, com resultados bastante variáveis (Smith, 1973; Jory et al., 1985). As gaiolas estavam posicionadas em áreas de alta salinidade e temperatura, o que resultou em surtos de doenças e mortalidade elevada.
Os pampos são animais relativamente resistentes e bem adaptados ao cultivo, mesmo em sistemas de alta densidade. Porém, várias barreiras precisam ser superadas para que os cultivos possam alcançar o nível de sucesso comercial: produção confiável de alevinos e juvenis; desenvolvimento de alimentos formulados que proporcionem o máximo rendimento para a espécie (sem isso, as taxas de conversão alimentar obtidas podem variar de 2 a mais de 6 (Jory et al., 1985)); controle adequado de doenças.
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